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sexta-feira, março 23, 2012

Ian Coates de Hebden Bridge




Ian Coates em Lisboa - Março 2012

O Lobo da Estrada

Mecânico de profissão, viajante por convicção, não o motivam as atrações turísticas, nem os monumentos, nem tampouco as estradas. Viajar é para ele uma forma de conhecer pessoas. Sobretudo aquelas que representam os seus povos, as suas culturas e tradições. 

Ian Coates tem 70 anos de idade. Nasceu no final da 2ª GG e viveu em Hebden Bridge, pequena cidade medieval implantada bem no centro de Grã Bretanha, em Inglaterra.

Tudo terá começado ainda no século passado, em 1999, com uma longa viagem que o fez cruzar África. Tinha sido convidado por umas pessoas para ir à África do Sul resgatar um Land Rover do tempo da segunda Grande Guerra. O objectivo inicial era repará-lo e conduzi-lo de volta para a Inglaterra. Mas as coisas não correram como previsto e depois de ter efectuado a reparação, a falta de vistos e autorizações fez com que o carro tivesse que ser despachado de barco para o seu destino. 

Foi então que Ian, movido pela curiosidade de conhecer os povos e gentes de África, telefonou à sua mulher, que tinha ficado em casa, a pedir-lhe que esta lhe despachasse a sua moto para Joanesburgo, já que ele queria fazer a viagem de regresso na sua África Twin de 1991.

Supostamente iria demorar quatro meses a chegar a casa. Mas a realidade só o devolveu à família um ano depois de ter partido de Joanesburgo. Na sua rota passou por Suazilândia, Moçambique, Botsuana, Namíbia, Zimbabué, Zâmbia, Malavi, Tanzânia e Zanzibar, Quénia, Uganda, Etiópia, Sudão, Egito, Chipre, Grécia, Itália e França.O “Bicho” tomou conta dele e partiu logo de seguida… no ano 2000. Iniciou então uma volta completa ao mundo, e ainda fez uns quantos desvios…

Começou por despachar a moto para a Austrália, tendo percorrido grande parte da grande ilha. Despachou-a novamente com destino à Nova Zelândia que também percorreu de lés a lés, passando-a praticamente a pente fino. Daí, voltou a despachar a moto, desta feita rumo à América do Sul. Começou pela Argentina, foi ao Chile, atravessou praticamente todos os países até que chegou a Trinidad e Tobago.

Aí encontrou um veleiro que fazia a sua viagem inaugural com destino à Nova Zelândia, mas que não tinha nenhum mecânico a bordo. Foi então que Ian se ofereceu para assumir graciosamente o lugar de mecânico, por troca de lhe levarem a sua Africa Twin de boleia até à cidade do Panamá. Mas ainda na travessia do canal, foi convidado para continuar com o navio até ao destino final. 

Aceitou e foi assim que conheceu grande parte das ilhas do Pacífico. Chegado à Nova Zelândia, voltou a despachar a sua Honda de volta para o Panamá. Aí iniciou a sua volta ao mundo…América Central, Estados Unidos, Canadá e Alasca. Atravessou toda a Rússia até à República Checa, cruzou a Áustria, a Itália, Espanha e chegou a Portugal.

Ian Coates ainda hoje anda na estrada e tem planos para gastar mais uns quantos jogos de pneus até chegar novamente a casa, onde não irá lá ficar por muito tempo já que quer dar mais uma volta ao mundo, apenas para revisitar os amigos que tem feito ao longo destes 12 anos. Como já sabe o caminho, diz que vai ser rápido: só uns cinco anos, garante!

Quando passou por Lisboa, tive a oportunidade de privar um pouco com ele. 

Entrevistá-lo formalmente é impossível mas ainda assim consegui satisfazer alguma curiosidade:





Ao longo das suas viagens mantém sempre a autossuficiência. Tras sempre consigo víveres, uma pequena farmácia, roupas, saco cama, tenda, ferramentas, gasolina, óleo… enfim, tudo o que faça falta. Garante que o segredo para nunca ter tido problemas foi usar o Bom Senso. Ilustra a afirmação: “nas pequenas aldeias e povoados, sempre fiz questão de me apresentar às autoridades, ou aos líderes, dizendo que vim por bem, apenas para fazer amizade, mostrando que não temo nem há razão para ser temido”. Assim sempre gozou de proteção.

Mesmo a desbravar caminhos na Rússia, fez questão de parar sempre que encontrava pessoas, e tentar pedir informações, a dizer quem era e ao que ia. O seu ar afável apesar do grande porte, suscita simpatia, o seu sorriso é fácil e contagiante e a sua calma é comunicativa. Talvez por isso comentava que durante a sua travessia da Ásia, comunicava em inglês com toda a gente (é a única língua que fala) e toda a gente lhe respondia em idioma local, mas sempre se fez entender e sempre conseguiu o que quis.

De quando em vez, raramente, a mulher visita-o, passam uns dias juntos e ela regressa a casa. Conta, por brincadeira e rindo, que um dia estava à sua espera num aeroporto, já não a via há muito tempo (se percebi bem, foram mais de quatro anos) e não a reconheceu! Só quando ela estava mesmo à sua frente é que ele viu que aquela senhora, afinal era a sua!


Pode ficar a saber mais sobre este caso sério do mundo das viagens de moto, no único site oficial que ele atualiza:



Todo o resto, são pessoas que o vão conhecendo e vão postando mensagens em diversos locais.

Uma busca no Google encontra imensos episódios e histórias deste homem. Um verdadeiro mito!

Godspeed Ian!


Com Nuno Elbling e Ian Coates nas docas de Alcântara



















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